Meu rosto beija o asfalto
Fica uma marca de batom cinza
Me levanto, lento e confuso
Outro beijo, mais sôfrego
E meu olho não se abre mais,
meus lábios se abrem em sangue.
O olho que ainda abre não vê muito
Mas vejo meus dentes no chão
Vejo as gotas de sangue grosso caindo
Uma a uma, afogando os dentes.
Vejo minha mão, que treme e sua
Com o esforço vão de levantar
É com outros sentidos que tomo nota
Do rasgo na blusa; os fios esgarçados
Ardem quando o vento lhes empurra
Como amantes para dentro da ferida
Aberta, escancarada em meu peito
Sei dela pela dor, que é sentido, pois não?
Com o olfato, sinto os cheiros da rua
Asfalto quente, cocô de cachorro, folhas mortas.
Com a língua, busco os lugares onde havia dentes.
Se saber depois da queda é o bastante -
desisto de levantar,
sento
não penso em nada.
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