Thursday, February 15, 2007

Dream of the Thief

You are alone, in a very small room. You knew how small the room was already, because there's no way of knowing it, in the pitch darkness, the motionless air. Not entirely motionless, because you can hear a very soft breath, close to you. Making you not-alone. An infinitely soft breath, which you keep thinking to be your imagination; stopping your own breathing doesn't help, because it is softer than the noise blood makes while rushing through your ears.
After a long, long while - though not quite so long as to let you cease worrying - the thief speaks. What he speaks, you do not know, save that it is meant to be reassuring, that it is a shy apology. His voice is almost as soft as his breath, and his movements are entirely soundless. Not cat-like, for even the ragged suede of an alley-cat's paw makes some sound, and the thief makes none.
He comes closer - his voice sounds closer in the black, motionless dark. Close enough that you think you should feel his breath on your breast as he keeps asking you to forgive him for being so disappointing. You don't feel his breath, though, and neither do you feel the scalpel until it has gone very deep in your breast, severing your heart from its home. As he takes your heart and walks away, over the great glops and wheezes of your sucking veins you hear him cry a small cry - of shame? when his own heart falls out and, as if that cry summoned it, the moon floods your room.
By the molten moonlight, before the final blackness comes you see the thief is very small, and a bit broken.

Wednesday, February 14, 2007

Google tem chocolate

Então, em honra de São Valentim e do Theobroma cacao, duas corruptelas.

Uma faz mal a um poema do Byron, a outra corrompe uma cantiga castelhana.

Eres alta y delgada

como tu madre,

morena salada,

como tu madre;

bendita sea la rama

que al tronco sale,

morena salada,

que al tronco sale.


Toda la noche estoy,

niña, pensando en ti;

y de amores me muero

desde que te vi,

morena, salada,

desde que te vi.


Te quiero siempre,

alta y delgada

morena salada,

solo para mi

y para mi solo,

solo quiero a ti.




She walks in beauty like the night
My love is like a different night
Of summer climes and cloudless skies
She's plastic, electric, her body fantastic
And all that's fair of dark and bright
And when her impish eyes are bright
Meet in her aspect and her eyes
They make me frolic all erotic

Monday, February 12, 2007

Hoje

Na estrada dourada que leva a Samarkand, o pó cobre as roseiras. Cachorros famintos disputam entre si o pouco que encontram em meio aos restos dos viajantes. Estes, hoje, são bem poucos, e ao se encontrar (sempre indo, nunca vindo), não se cumprimentam como irmãos, como amantes ou como aqueles chatos que te reconhecem como compatriota numa terra distante. Passam um pelo outro, agarrando firme seus pertences, com medo de ser roubados. Mal olham para os tijolos dourados, nem reparam que em cada um deles há uma houri do paraíso, presa lá por uma bruxa velha, esperando um simples olhar para libertá-la. Ignoram houris, ignoram rosas, ignoram cachorros famintos e a poeira; só pensam em Samarkand, e por isso nunca chegarão lá. A cidade, com seus pátios vazios de lápis-lazúli e esmeralda, sente falta dos viajantes de outros tempos, com suas mulas de arreios de prata ou com seus potros cavalgados em pelo, viajantes para quem qualquer parada ou encontro na estrada era motivo para uma festa de rara alegria. Às vezes, Samarkand a saudosa solta um suspiro imenso, que na forma de uma nuvem negra se espalha pelo deserto, matando a sede dos vira-latas.

Thursday, February 01, 2007

Post casado B

Porto

Havia nos olhos postos o sentido
de não vencerem distancias.
Calados, mudos, de lábios colados no silêncio
os braços cruzados como quem deseja
mas de braços cruzados.
Os navios chegavam ao porto e partiam.
Os carregadores falavam da gente do mar.
A gente do mar dos que ficam em terra.
As mercadorias seguiam.
Os ventos, dispersos na alma do tempo,
traziam as novas das terras longínquas.
Segredavam-se em noites e dias
a todos os homens
em todos os mares
e em todos os portos
num destino comum.

Os navios chegavam ao porto
e partiam...

-Alexandre Dáskalos