Fugindo da minha boca,
A tua deixa de existir.
E porque quero essa boca
Tenho que inventá-la, esculpir,
Usando meus próprios lábios
Primeiro desenho teus ombros
Para isso, disponho as palavras
À minha frente, como se fossem
E diferentes qualidades de barros.
A escultura que faço começa pela
Simples descrição; é o barro, a base
Descrevendo a forma desses lábios
Um coração que se mexe, se afina
Quando um sorriso se forma atrás
Depois, as cores: algumas berrantes,
Bregas como dizer que são lábios de coral
Outras, mais sóbrias, não são adjetivos
São descrições do efeito hipnótico
Como se não fossem lábios, mas olhos
De cobra que paralisam a presa.
Presa? Que presa? Se eu fosse uma
Não precisaria de poema.