Wednesday, October 06, 2004

Três estórias - 1

Uma Estória Histórica (ou quase)

Felipe II, rei de França, chamado o Augusto, saudações àquele que lê este texto. Fique ele sabendo que, ao voltarmos do pântano de Bouvines, tendo lá travado batalha com as hostes da Europa, e voltado à tenda, descobri estar lá nosso escudeiro, já deitado com a rainha do mais poderoso reino do presente tempo, que cumpria suas funções conjugais como bem raras vezes havia feito conosco. Foi por nós o escudeiro, como manda o costume, rapidamente privado de suas funções reprodutivas e, momentos após, de suas funções vitais. Sem conseguirmos decidir-nos sobre nossas ações, vagueamos pelo acampamento, certos de que a morte do infeliz pagem seria debitada aos soldados de nosso primo d’Alemanha. A noite, ao cair, encoutrou-nos longe do acampamento, e foi considerado por nós imprudente voltar assim, a noite, quando o marechal havia, certamente, dado ordens para que as sentinelas fossem postadas. Procuramos, portanto, um lugar mais seco da floresta onde pudéssemos dormir, e encontrar em nosso julgamento solução para o problema que se nos havia apresentado.
Caso aquele que estiver lendo este não seja um homem de estado, talvez desconheça ele os problemas apresentados pela imposição a nós de um caráter unicórnico pelo criado, que muito além iam da honra, de resto satisfeita com a entrega feita de sua alma a Lúcifer. Para sermos específicos,fazia a ocorrência com que puséssemos em dúvida a paternidade do filho que a rainha carregava em seu ventre, possível futuro Rei de França.
Ao deitarmos na terra húmida, a exaustão causada pela batalha fez-nos, quase que imediatamente, adormecer. No meio da noite, fomos acordados por uma voz árabe. A voz pertencia, como logo verificamos, a um homem franzino, que recitava trechos de um conto a uma criança. O conto, viemos a saber, falava de um Califa dos sarracenos a quem semelhante desgraça havia acontecido. Resignados, pela moral do longo relato, com nossa condição, voltamos ao acampamento, para descobrirmos ter nossa real esposa, com medo de nossa justiça, se enforcado nos lençóis carmesins. Desiludido com a justiça divina, decidi recolher-me a um convento, e um impostor governa agora o reino de França, sendo eu, irmão Capeto, o mais humilde dos calígrafos do mosteiro de São Germano. Glória seja a do Deus cujos desígnios não compreendemos, como dizem os sarracenos.

e disse Alcuíno, como me lembra o Abade.

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