Tuesday, November 29, 2016

The More Loving One

Looking up at the stars, I know quite well
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast. How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me. Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day. Were all stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.

-WH Auden


Olho para as estrelas, e sei bem
Que por elas, eu poderia me foder.
Mas na terra, a indiferença é sem
dúvida, de gente e bicho, pouco a temer.
Como nos sentiríamos se as estrelas por nós ardessem
Com uma paixão que não pudéssemos retribuir?
Se não pode se igualar a afeição,
que seja minha a maior paixão.
Admirador como sou (estou imaginando)
de estrelas que estão cagando,
agora que as vejo, não posso dizer
que, pelo dia, senti a saudade me roer.
Se morressem todas as estrelas, ou sumissem,
Eu aprenderia a olhar para um céu sem
estrelas, e achar sublime o céu de breu,
mas isso demoraria - acho eu.

Thursday, November 24, 2016

Approaches: Darkness

Equinoxially obtemperate
the Great Pumpkin arose.

Duck noises in the night
Ululating Heil Heil Quack

Scouring the world of reason
- that eternal, grumpy killjoy

Making it safe for oil, for
moneymaking and merriment

A white world without white ice -
oddly orange the figure at its prow

The Cunt-grabber in Chief, now
master of the dome of heaven

A red button, made of nightmares
hangs ever next to the Pumpkin

Approaches: darkness. For those
with dark skin, or cunts, or lives.

And it shall have illimitable dominion
(over what?

 aye, that's the rub) 

Wednesday, November 23, 2016

Stalingrado

Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas 
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora, 
e o hálito selvagem da liberdade 
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem, 
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída, 
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas, 
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida. 

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder, 
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta, 
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos; 
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas, 
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate, 
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate, 
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres, 
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.




- Carlos Drummond de Andrade

Monday, November 14, 2016

Dark with power

Li esse poema há muitos anos atrás, num livrinho que depois perdi e que provavelmente é o maior responsável pela minha americanofilia. 

Ele falava do Vietnã, falava da guerra fria. Mas talvez sirva para capturar os tempos que correm, também. 





Dark with power, we remain
the invaders of our land, leaving
deserts where forests were,
scars where there were hills.

On the mountains, on the rivers,
on the cities, on the farmlands
we lay weighted hands, our breath
potent with the death of all things.

Pray to us, farmers and villagers
of Vietnam. Pray to us, mothers
and children of helpless countries.
Ask for nothing.

We are carried in the belly
of what we have become
toward the shambles of our triumph,
far from the quiet houses.

Fed with dying, we gaze
on our might's monuments of fire.
The world dangles from us
While we gaze.


-Wendell Berry



Nosso sombrio poder, e ainda somos
invasores em nossa própria terra,
deixando desertos onde houve floresta
chagas no que já foram morros. 

Nas montanhas, nos rios
nas cidades e fazendas
nossa mão pesada cai, nosso sopro
potente com a morte de todas as coisas.

Rezai por nós, fazendeiros, aldeões
do Vietnã. Rezai por nós, mães
e filhos de países indefesos. 
Nada peçam. 

Carregados somos no ventre
daquilo que nos tornamos
rumo aos escombros de nosso triunfo.
Longe das casas tranquilas.

Cheios do morrer, olhamos para
os monumentos de fogo de nosso poderio.
O mundo, ele pende de nós
Enquanto olhamos. 

Sunday, November 13, 2016

Poems for Akhmatova

Poems for Akhmatova (1-4)
1

Muse of lament, you are the most beautiful of
all muses, a crazy emanation of white night:
and you have sent a black snow storm over all Russia.
We are pierced with the arrows of your cries

so that we shy like horses at the muffled
many times uttered pledge—Ah!—Anna
Akhmatova—the name is a vast sigh
and it falls into depths without name

and we wear crowns only through stamping
the same earth as you, with the same sky over us.
Whoever shares the pain of your deathly power will
lie down immortal upon his death bed.

In my melodious town the domes are burning
and the blind wanderer praises our shining Lord.
I give you my town of many bells,
Akhmatova, and with the gift: my heart.

2

I stand head in my hands thinking how
unimportant are the traps we set for one another
I hold my head in my hands as I sing
in this late hour, in the late dawn.

Ah how violent is this wave which has
lifted me up on to its crest: I sing
of one that is unique among us
as the moon is alone in the sky,

that has flown into my heart like a raven,
has speared into the clouds
hook-nosed, with deathly anger: even
your favour is dangerous,

for you have spread out your night
over the pure gold of my Kremlin itself
and have tightened my throat with the pleasure
of singing as if with a strap.

Yes, I am happy, the dawn never
burnt with more purity, I am
happy to give everything to you
and to go away like a beggar.

for I was the first to give you—
whose voice deep darkness! has
constricted the movement of my breathing—
the name of the Tsarskoselsky Muse.

3

I am a convict. You won't fall behind.
You are my guard. Our fate is therefore one.
And in that emptiness that we both share
the same command to ride away is given.

And now my demeanour is calm.
And now my eyes are without guile.
Won't you set me free, my guard, and
let me walk now, towards that pine-tree?

4

You block out everything, even the sun
at its highest, hold all the stars in your hand!
If only through some wide open door, I
could blow like the wind to where you are,

and starting to stammer, suddenly blushing,
could lower my eyes before you
and fall quiet, in tears, as
a child sobs to receive forgiveness.


-Marina Tsvetaeva