Friday, November 23, 2007

Teafania

Sempre achei - achei não, soube - que a perfeição não existia.
Sempre soube - ou talvez achei - que a imaginação superava
a realidade das coisas, e o olho do poeta, do louco, da magia
sabiam bem mais coisa do que os olhos das gentes. Achava
que se via mais fechando os olhos que com eles abertos
que o amor não era mais do que amizade, tesão e afetos.

Até que um dia essas certezas caíram, e quando abri os olhos
ouvi tua voz, deixando toda a poesia no chinelo, e pude ver
que há mais poesia do que em toda a literatura em teus joelhos.
Na curva da tua testa, no barulho que tua boca faz ao comer...
cada detalhe teu é um mundo, e te tocar por um instante é
mais alegria do que poderia imaginar em quantos séculos.

Monday, November 12, 2007

São Paulo

De volta à Garoa. Nem sinal de garoa. Ao invés disso, um calor seco traz o cheiro de milhões de escapamentos a quem ouse respirar, e faz com que gotas de suor escorram pela sua pele cheia de fumaça, traçando caligrafias improváveis enquanto descem. Caligrafias, também, na pia de porcelana quando se lava as mãos. Uma cidade de tinta, uma atmosfera escritora. Só é impossível é saber o que ela escreve; mais impossível ainda debaixo do céu de madrepérola derretida.

O cheiro dos escapamentos tentando sair de meus pulmões, de tosse em tosse. A Avenida Paulista, de perto sendo convertida ao cinza geral, pela remoção das pedras portuguesas. De longe, torres em meio à escuridão do céu, com os faróis no topo avisando ao céu para que não se meta com a cidade. Ou convidando as nuvens baixas. Nunca sei.