Se eu por ofício colhesse canela
andaria por tua cama.
E deixaria em teu travesseiro
o pó amarelo da casca.
E o odor em teus ombros, seios
te impediria de andar pela feira
sem que minha profissão de dedos
flutuasse sobre ti. Até os cegos
tropeçariam certos de a quem se dirigiam
mesmo que te banhasses
sob calhas, sob monções.
Aqui, acima da coxa
na paragem macia
junto a teu cabelo;
no vinco das tuas
costas. Este tornozelo.
Serás conhecida pelos outros como
a mulher do colhedor de canela.
Te olhar, só de soslaio
antes do casamento
e nunca te tocar
- tua mãe tem olfato apurado, teus irmãos são duros.
Mergulhei minhas mãos
em açafrão, as disfarcei
sobre alcatrão, e ajudei
os colhedores de mel.
Uma vez, nadando
pude te tocar sob a água
sem que nossos corpos se marcassem,
poderias me abraçar se mantendo cega ao cheiro.
- subiste ao seco dizendo
assim é como você toca às outras,
à mulher do meeiro. À filha do caiador.
E procuraste em teus braços
Pelo ausente perfume.
e soubeste
Que graça
ser a filha do caiador
largada sem traço
como alguém que é amada se que lhe falem
como alguém que é ferida sem deixar traço
-sem o prazer da cicatriz.
E trouxeste
tua barriga às minhas mãos
no ar seco, dizendo
Eu sou a mulher do colhedor
de canela. Cheira.
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