Tuesday, May 17, 2011

Canto da sereia

O ofício divino é árduo e jubiloso -
Diziam monges em monásticas vestes
andando silentes por seus mosteiros.

Procuravam a chave dum mais-que-mistério
Buscavam entender a luz que lhes cegava
Olhe, seus cenhos, carregados de rugas
os olhos, de tão apertados, quase somem.

O escrever dos monges transbordava de gestos
Este talha, à faca, de um cálamo uma pena
Aquele apaga a errada tinta - e sua borracha
é um dente de lobo engastado em prata.

E o cuidado do silêncio, do gesto, do trabalho
para os monges eram redes, cintos de segurança
para que não se perdessem na busca do mistério
para que, alcançando-o, não se imolassem em alegria.

...

Não sou monge, não tenho a honra do silêncio
Mas, na busca pelo teu mistério, olhando o tecer
dos fios do destino por teus assim magros dedos
me carrego igualmente de gestos, estes inúteis
e a ti de nomes, apelidos, títulos.

Como se assim me guardasse de me perder no teu mistério.

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